Quando olho a questão do meu ponto masculino de vista não nego que, por mais alteridade que possa produzir, jamais sentirei o mal que um ato violento ou o desespero do abandono possa causar a uma mulher. Contudo, admitirmos o aborto será assumirmos nossa incapacidade em resolver os problemas que levaram nossa sociedade a cogitar o assassinato como solução. O aborto é um paliativo grosseiro à nossa ineficácia jurídica. É um dedo no vazamento do dique ou um band-aid na hemorragia. Não conseguimos acabar com o estupro, então matamos a criança fruto dele. Não conseguimos proteger nossas família do abandono, então matamos os filhos. Não conseguimos promover educação sexual ou estimular métodos contraceptivos, então matamos novamente. Nas últimas semanas tenho recebido inúmeras contribuições para a construção dos argumentos aqui expostos. No entanto, para que o texto não ficasse por demais enfadonho, resumi-os em tópicos que, obviamente, renderiam, cada um deles, um artigo solo. 1)
A terminologia esquerda e direita nasceu durante a convenção dos Estados Gerais na França pré-revolucionária do século XVIII. A direita do rei, na assembleia, sentavam os representantes dos interesses da nobreza e a esquerda dele o chamado terceiro-estado, incluindo neste, a saber, a burguesia. Nossa atual esquizofrenia política parece coisa de algum incauto observador daquela seção que, tendo mirado a reunião de frente, viu um reflexo invertido do que o rei via. Contudo, como sabemos, discursos de poder ou políticos não são incidentais e sim intencionais, então, cabe aqui uma concisa análise do mais intransponível dos discursos, o dito discurso de esquerda. A visão maniqueísta A forma de ver o mundo por uma prisma bicromático nos acompanha desde que somos modernos (aqui no sentido historiográfico). Contudo, esta polarização tem se tornado muito mais evidente em nossos tempos virtuais. Quem nunca se viu argumentando contra um ponto defendido pela esquerda e foi imediatamente